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Pequenos

O perfil de clientes usuários do Uber é bastante variado. Gente de todas as idades, origens, etnias, classes sociais, profissões e crenças. Gente que vai e vem, circulando pela cidade e deixando um pequeno fragmento de suas vidas no carro. Crianças são um caso à parte. Entram animadas, às vezes tímidas e desconfiadas, mas sempre curiosas. Mal acabam de sentar, procuram por balas. As de hortelã já não tem mais vez. "Parece pimenta", critica um menino. Agora, só as de frutas e recheadas com chocolate. Outro dia, levei mãe e duas filhas pequenas. Uns quatro anos de idade, gêmeas, loirinhas, olhos azuis e pele de porcelana. Lindas. "Falem boa tarde!", disse a mãe. "Oi, boa tarde. Nós somos irmãs". Sorrindo, respondi: "boa tarde. É mesmo? Que legal!". Crianças parecem viver num mundo à parte, misturando realidade e imaginação. "Mãe, você gosta de mim?". "Eu te amo, filho", responde a mãe amorosa. E o menino, um tanto de...

Propósito

Tomar a decisão de dirigir pela Uber foi decorrência de uma necessidade de momento. Há pouco mais de cinco anos, comecei a trabalhar como autônomo, prestando serviços nas áreas de marketing, comunicação e relacionamento comercial, para empresas de diferentes setores. Desenvolvendo projetos sob demanda, consegui montar uma boa carteira de clientes e assim garantir uma receita financeira compatível com meus objetivos pessoais. Ocorre que a partir do início de 2017, os negócios começaram a diminuir para mim e em meados de agosto do ano passado, iniciei o meu trabalho como motorista Uber, visando repor o meu orçamento. Passados pouco mais de cinco meses, vejo que essa foi uma decisão acertada. Não é nada fácil, confesso. Mas dirigir pela Uber tem me ajudado a manter as finanças em dia. Trabalho duro, dirigindo em média dez horas e rodando em torno de 250 km todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos. Além da questão prática de poder me reorganizar financeiramente, perc...

Voltando pra casa

Uma das funções dos aplicativos de mobilidade urbana é a possibilidade de nós, motoristas, escolhermos um destino quando estamos dirigindo. Isso permite, por exemplo, selecionarmos uma região com maior demanda de usuários ou um endereço específico, caso tenhamos um compromisso agendado. Uma vez feito isso, o aplicativo identifica chamadas de usuários em direção àquele local e, assim, evitamos circular pela cidade sem passageiros e apenas consumindo combustível. Na Uber, atualmente, podemos ativar essa função duas vezes ao dia. Eu normalmente deixo a segunda vez livre para quando decido voltar para casa. Outra função interessante é o aviso que aparece na tela do celular, quando há uma chamada para uma viagem longa, normalmente com mais de quarenta e cinco minutos de duração. Assim, sabemos antes de aceitar e podemos nos programar melhor. Tecnologia é mesmo um facilitador. Ontem à noite, um pouco depois das vinte horas, recebo uma chamada para uma viagem de longa duração, levando...

Corrente do bem

Por volta das 14 horas de ontem, recebi uma chamada vinda do Hospital São Luiz, no Itaim Bibi. Uma senhora iugoslava, de uns 70 anos, saindo sozinha do pronto atendimento e movendo-se devagar por causa de uma dor extrema, aparentemente na região do abdômen. Com a ajuda de um porteiro do hospital, ela entrou no carro com dificuldade, seu rosto mostrando a expressão de quem realmente estava sentindo muita dor. Eu disse que ia fazer o possível para que a viagem fosse confortável, apesar dos inúmeros buracos no asfalto das ruas de São Paulo. Dizendo que morava pertinho, em Moema, ela perguntou se eu não me importava de parar na farmácia, no caminho de sua casa, pois precisava comprar medicamentos. Respondi que iria acompanhá-la e ajudá-la. Parei o carro com cuidado, desci, abri a porta, servi de apoio e entrei com ela na farmácia. Demorou um bom tempo e depois, continuando a viagem, ela perguntou se eu já havia almoçado. "Ainda não", respondi. Ela pediu para eu parar mais...

Seguindo o líder

Ontem eu tive um médico cardiologista como passageiro. Um senhor de uns 70 anos de idade, descendente de italianos, super falante e bonachão. Disse que havia vendido recentemente seu carro e que agora só andava de Uber ou no carro da esposa. Durante a nossa conversa, comentei com ele sobre os resultados de alguns exames que eu havia feito, pois estava com uma cirurgia agendada para fazer uma correção de desvio no septo nasal. Me perguntou o nome dos médicos. Conhecia tanto o meu cardiologista quanto o otorrino que iria me operar. Na verdade, esse encontro teve algo mais interessante. Em função de mudanças recentes no fluxo de algumas ruas de Santo André e também por uma leitura equivocada que eu fiz no GPS, acabei me atrasando um pouco para chegar ao lugar do embarque. "Você tava perdido?", ele perguntou meio brincando quando eu cheguei. No final da viagem ele me desejou uma boa cirurgia e pediu para eu mandar um abraço para o otorrino. Nos despedimos e quando ele já...

Lições

Mais um dia de bons sentimentos, reflexão e aprendizado com as experiências do Uber: 1. Servir a Deus é servir ao próximo, com amor e humildade. 2. Importante saber não se deixar mover pela ilusão da posse de bens materiais, mas pela certeza do amor em Deus. 3. Saber escolher a que e a quem dar ouvidos faz toda a diferença. No passado eu costumava contabilizar riscos, perdas e situações desastrosas. Agora, o meu foco está nas coisas positivas que me aproximam de Deus. 4. Deus está em tudo e cada pessoa que entrou no meu carro hoje trouxe uma mensagem Dele. A mais inusitada foi a de uma senhora de 80 anos de idade. Anoitecia enquanto eu dirigia pelas ladeiras de Perdizes. Recebo uma chamada e chegando ao local, vejo aquela senhora usando uma bengala e conferindo a placa do carro na tela do celular. Desço, abro a porta traseira, mas ela opta por sentar-se no banco da frente. Pergunto: "a senhora tem o hábito de usar o Uber?". "Só quando não dirijo o meu carro...

Malabares urbanos

Estou parado com o carro num cruzamento, quando aparece um rapaz com malabares de bolinhas e chapéu. Confesso que isso sempre foi algo que me incomodou, pois, por puro preconceito, eu achava além de constrangedor, uma atitude meio invasiva e aproveitadora. Enfim, sempre que tinha algo assim na rua, eu não via a hora em que o sinal ficasse verde. Mas naquele dia foi diferente. De repente eu senti apenas compaixão e amor no coração por aquele rapaz. Vi Deus nos olhos dele! Em cada movimento, gesto e olhar havia a presença divina. Percebi o quanto ele fazia aquilo com amor, atuando de maneira pura e fazendo parecer natural a técnica do equilíbrio e da coordenação com as bolinhas e o chapéu. Eu queria que aquele momento durasse muito! Alegrou o meu dia e eu não pensei em nada. Apenas senti. Ao final da apresentação, ofereci a ele uma barrinha de cereais e o sinal ficou verde. Saí dali chorando de emoção. Mais tarde eu refleti: não podemos julgar, mesmo. Talvez essa seja a única...